terça-feira, 6 de agosto de 2013

Câmara de Vereadores de Blumenau realizou uma sessão ordinária de homenagem à William Naatz, filho do vereador Ivan Naatz que morreu em um acidente nos Estados Unidos. O vereador Cézar Cim falou em nome dos parlamentares. Veja o texto lido no plenário e que fez muitas pessoas se emocionarem.

Câmara de Vereadores de Blumenau realizou uma sessão ordinária de homenagem à William Naatz, filho do vereador Ivan Naatz que morreu em um acidente nos Estados Unidos. 
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O vereador Cézar Cim falou em nome dos parlamentares. Veja o texto lido no plenário e que fez muitas pessoas se emocionarem. O vereador Cézar Cim perdeu sua filha de 20 anos em um acidente de carro no bairro Escola Agrícola em Blumenau há 13 anos atrás dia 30/06/2000.
 Foto arquivo de Jaime Batista da Silva (Vereador Cézar Cim)

A sessão ordinária desta terça-feira (06) teve um enredo diferente. Ao invés dos discursos e debates em torno de projetos e requerimentos, os vereadores pediram ao parlamentar Cezar Cim (PP) para falar em nome da Câmara ao colega Ivan Naatz (PDT) e família. No sábado, o filho de Ivan, William Willi Naatz, de 20 anos, morreu em um acidente de moto em Detroit, nos Estados Unidos, onde morava e trabalhava.
Foto divulgação

Cezar Cim disse que era um singelo ato de solidariedade pelo tamanho da dor. “Não sei qual é o tamanho da dor do nosso colega vereador, da esposa e do outro filho. Só o dono da dor nestas situações sabe o tamanho deste sentimento”.
Conforme Cim, o poeta já definiu o que é o amor, a saudade, a dor, a alegria, a felicidade. “Mas o poeta jamais vai conseguir definir a dor de um pai e de uma mãe que perde um filho em circunstâncias tão trágicas, num acidente”.
O vereador ressaltou que o ato de solidariedade não é para dar respostas a questionamentos, como o porquê alguém vive com cem anos e alguém morre aos 20; o porquê alguém sai daqui e vai pros Estados Unidos estudar e morre; o porquê a tradição dos filhos sepultarem os pais foi quebrada. “Não temos estas respostas. Elas ficam por conta dos mistérios da vida e da morte”.
Para Cim, há apenas uma resposta para a pergunta por que William morreu. Porque tinha vida. Quando se nasce já se começa a caminhada para a morte. “A morte é a grande certeza da vida”.
O parlamentar destacou que o ato também não busca aplacar as dores, mas dividi-las, inclusive as lágrimas. “Para a dor só há um remédio, que é a fé. A fé não vai fazer esquecer. Vai apenas ajudar a acostumar. É como se tivesse perdido uma perna ou um braço. A vida continua, mas já não é mais como era. Essa fé é que vai comover Deus para ajudar a família. Não é o sofrimento que comove Deus. É a fé em entender o sofrimento, a morte. A fé em aceitar a morte”.
Para ajudar a família a suportar a dor, Cezar Cim lançou mão de algumas experiências, doloridas, mas que vão ajudar Naatz a enfrentar a situação. “No escritório, na Câmara, no apartamento, quando escutar o som de alguém subindo as escadas ou saindo do elevador e imaginar que é o William ou quando lhe der vontade de passar a mão no telefone e ligar para ele, não se preocupe, é só saudades. Na lápide do cemitério, Ivan, se der vontade de escrever ‘filho, quando o pai morrer, no atestado de óbito, a causa é conhecida, a saudade’, escreva. Isso vem de um pai que ama na morte o filho muito mais que amou na vida”.
Cezar Cim falou ainda a Ivan Naatz que quando sair pelas ruas atordoado, buscando fugir da dor e receber um abraço mudo, para não se preocupar, pois a solidariedade muda é uma expressão de sentimento. “É a expressão das pessoas que gostariam de lhe dizer alguma coisa e não tem coragem. Preferem o silêncio. Quando nos finais de semana, a visita ao cemitério fazer parte da sua vida, fique feliz, esta é a maior prova de que o William ainda faz parte da sua vida. Quando estiver num grupo de amigos, descontraído, ele vai chegar e dizer: ‘paizão, já me esqueceu? Estou aqui’. Nesta hora você pode chorar. As lágrimas que queimam o rosto e atingem a alma são a maior expressão de humildade perante a dor, a saudade e a morte. Jesus chorou pela morte de Lázaro”.

Cim ainda homenageou William lendo uma frase que ele mesmo postou em uma rede social: “Todos deveriam ver o mundo e as pessoas com o coração. Jamais deveríamos perder o coração de criança. A criança nada espera, tudo confia e não tem maldade”.

Ao final, Cezar Cim pediu que todos os parlamentares elevassem o pensamento a Deus e que se unissem a espiritualidade dos vereadores Mário Hildebrandt (PSD) e Marcos da Rosa (DEM) e que pedissem a Deus que assim como ele tirou William desta vida, que desse fé ao colega Ivan Naatz para suportar a dor. Em seguida, foi feito dois minutos de silêncio em homenagen a William Willi Naatz.

Na segunda-feira (4), a Mesa Diretora da Câmara de Blumenau decretou luto oficial de três dias pela morte do jovem. Além disso, suspendeu a sessão solene de entrega de título de Cidadão Blumenauense, marcada para esta quarta-feira (7). A sessão solene será agendada para outra data, a ser definida.

Carta escrita pelo vereador Ivan Naatz
Na segunda-feira (5), o vereador Ivan Naatz escreveu uma carta que Cezar Cim leu na tribuna.
“Meu filho William, Deus como pai amoroso não deseja que ninguém se perca. Por esta razão, tudo está explicado, revelado pela sua palavra, a Bíblia. Em Provérbios, capítulo quatro, dos versículos 20 a 22, diz assim: ‘Filho meu, atenta para as minhas palavras; às minhas razões, inclina o teu ouvido; não as deixes apartar-se dos teus olhos; guarda-as no íntimo do teu coração; porque são vida para os que as acham; e saúde para o teu corpo’. Graças a Deus, Jesus Cristo morreu na cruz para nos dar vida eterna. Você sempre estará junto de mim. De sua mãe, irmão e todos que o amam. Adeus, meu filho”.

Carta de William a Ivan Naatz
No discurso, o vereador Cezar Cim (PP) confessou que quando acordou, imaginou uma situação delirante, onde William escreveria uma carta ao pai com os seguintes dizeres:
“A morte não é nada. Apenas passeia o outro mundo. Eu sou eu. Tu és tu. O que fomos um para o outro ainda o somos. Dá-me o nome que sempre me destes. Fale-me como sempre me falastes. Não mudes o tom. Continue rindo com aquilo que nos fazia rir juntos. Reza, sorri, pensa em mim. Reza comigo. Que o meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou, sem nenhuma ênfase, sem rosto, sem sombra. A vida continua sendo o que era. O cordão da união não se quebrou. Por que eu estaria fora dos teus pensamentos pai? Apenas porque estou fora de tua vista? Não estou longe. Só estou do outro lado do caminho. Já verás. Tudo está bem. Seca as tuas lágrimas. E se me ama, na chores mais. De William para o papai Ivan”. 

Um comentário:

Elianir disse...

Importante citar que a referida carta "escrita" pelo filho de Ivan é um belíssimo texto de Santo Agostinho que tem tantas outras leituras que acalmam o coração. Fica a dica para quem, quiser textos que iluminem a vida: Santo Agostinho...